Com o aumento no preço da carne bovina, que subiu 6,83% e se consolidou como a maior alta de outubro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), bares e restaurantes de Natal estão buscando estratégias para manter os pratos acessíveis. O impacto nas contas dos estabelecimentos é expressivo, e a reação do setor é um consenso: implementar adaptações no cardápio, substituições de cortes de carne e diversificação de pratos têm sido as principais saídas para driblar a alta. De acordo com Paolo Passariello, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no RN, o segmento está se adaptando como pode para não repassar os custos diretamente ao consumidor.
“Todo fim de ano o preço da carne aumenta. Já estávamos esperando que isso aconteceria, mas foi muito além da expectativa. Muitos bares e restaurantes estão mudando os cortes de carne usados e até testando opções alternativas de proteína. Esses são os pratos que saem muito, porque o brasileiro gosta muito de carne” explica Paolo, destacando a dificuldade enfrentada pelos empresários para executar os reajustes necessários.
Entre os estabelecimentos tradicionais que têm enfrentado essas mudanças está o restaurante de Suedson Torres e Samaia Souza, um ponto clássico do Beco da Lama, na Cidade Alta, em Natal, com mais de 60 anos de história. Conhecido pela fidelidade a um cardápio acessível e com opções populares com preço único de R$ 14,00, o casal comenta que, com o aumento dos custos, foi preciso redobrar os cuidados para que o impacto não chegasse diretamente ao cliente.
“O que resta é procurar outras alternativas. Antes usávamos muito coxão duro, agora precisamos recorrer mais ao músculo. Sempre demoramos muito a trazer esse reajuste para nossos clientes, justamente porque nós somos um restaurante popular, mesmo com o custo dos ingredientes subindo quase todos os meses” conta Suedson. O último aumento aplicado pelo restaurante foi de apenas R$ 0,50 nos últimos seis meses, antes mesmo de alta da carne.
Para Samaia, a tradição de servir refeições populares torna a situação ainda mais desafiadora. O restaurante não utiliza sistema de balança, ou seja, o cliente paga um valor fixo para colocar quanto de comida quiser, incluindo duas opções de proteínas que são servidos pelos colaboradores. Isso faz com que os proprietários tenham que absorver o aumento dos custos de maneira estratégica. “Não temos como repassar esse custo agora. Quando é no peso, é mais fácil porque ele vai pagar um pouquinho a mais na balança”, completa Samaia. O local recebe cerca de 300 a 350 pessoas por dia, além de garantir a variação no cardápio diariamente.
Segundo o IPC, enquanto Frutas (-11,08%), Óleo (-6,41%), Tubérculos (-4,96%), Legumes (-3,89%) e Farinha (-1,11%) registraram queda, outros alimentos sofreram aumento no mês de outubro, como o Pão (4,58%), Margarina (4,47%), Café (3,28%), Arroz (2,12%), Feijão (1,28%), Açúcar (0,96%) e Leite (0,08%).
Cláudio Abdon, proprietário há três anos de um bar na Cidade Alta, também desabafa sobre os aumentos consecutivos de itens essenciais para a elaboração dos pratos. No último mês, alguns pratos aumentaram R$ 1,00 para possibilitar o equilibro das contas. “As pessoas preferem comer mais carne aqui, porque frango consome em casa. A gente vê que tem muita coisa subindo, mas a gente não pode ficar toda hora reajustando”, afirma.
Entre as compras necessárias, Cláudio explica que comprava a carne de sol por aproximadamente R$ 34,00 e hoje já encontra por R$ 41,00, uma diferença de R$ 7,00. “Eu uso também muito feijão, que também aumentou e a gente precisa ir se adaptando do jeito que dá”, considera o empreendedor. No local, os pratos variam de R$ 14,00 a R$ 17,00.
Tribuna do Norte