Houve um ‘crescimento na investigação, na opinião pública e nas start-ups’, mas há ‘sinais de abrandamento’ porque políticas públicas e financiamento não estão à altura
O mundo deve quadruplicar a captura de CO² atmosférico entre agora e 2050 para tentar limitar o aquecimento global, e isso envolve o uso de tecnologias que ainda dividem os cientistas, segundo um relatório publicado nesta terça-feira. Será necessário eliminar, ou seja, capturar na atmosfera e armazenar de forma sustentável, entre “7 e 9 bilhões de toneladas de CO²” por ano no período, segundo o relatório interdisciplinar, coordenado pela Universidade de Oxford, em sua segunda edição.
A primeira edição concluiu, no ano passado, que cerca de 2 bilhões de toneladas são atualmente eliminadas, principalmente graças ao reflorestamento, em comparação com 40 bilhões de toneladas emitidas mundialmente em 2023.
“Paralelamente a uma rápida redução das emissões”, que continua a ser “a estratégia mais importante”, a remoção de CO2 da atmosfera “é também necessária” para atingir os objetivos do Acordo de Paris, recordam mais de 50 investigadores.
Alguns destes especialistas também fazem parte do IPCC, o grupo de especialistas em clima mandatado pela ONU que reconheceu a necessidade de eliminar o CO², mas considera que a tecnologia tem um papel limitado. A remoção de CO² assistiu recentemente a um “rápido crescimento na investigação, na opinião pública e nas start-ups”, mas estão surgindo “sinais iniciais de um abrandamento” porque as políticas públicas e o financiamento não estão à altura, dizem os investigadores.
Segundo eles, o mercado cresce atualmente graças à demanda das empresas por créditos de carbono, ferramentas financeiras polêmicas. As empresas compram estes créditos para compensar uma tonelada de CO² emitida pelas suas operações, financiando um projeto de eliminação de CO² ou de redução de emissões.
Os aspiradores de CO² da start-up Climeworks, instalados na Islândia, que dispõe de um significativo armazenamento subterrâneo, são um bom exemplo: duas fábricas permitem atualmente capturar e armazenar 10 mil toneladas de CO² por ano graças ao apoio de fundos privados e a venda de créditos de carbono.
Para atingir um milhão de toneladas, a Climeworks necessitará de vários bilhões de dólares e, até a data, só os Estados Unidos anunciaram um plano de 3,5 bilhões de dólares, dedicado como um todo à captura de CO², e não apenas à sua eliminação.
Riscos para o meio ambiente?
Segundo o Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL), este relatório ilustra “uma tendência preocupante que procura cada vez mais vender a remoção de CO² como uma solução para as alterações climáticas”.
“É uma distração da prioridade que é (…) abandonar os combustíveis fósseis”, diz Lili Fuhr, do CIEL.
A eliminação centra-se no CO2 já emitido para a atmosfera, graças à restauração ou criação de sumidouros naturais de carbono (florestas, solos, turfeiras) mas também a novas técnicas, associadas ao armazenamento subterrâneo ou em materiais, que representam menos de 0,1 % de CO2 atualmente removido.
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Estes incluem captura direta no ar com grandes aspiradores/compressores (DACCS), captura após combustão de biomassa para transformá-la em energia (BECCS), conversão de biomassa em biochar (uma substância semelhante ao carvão), esmagamento de rochas que absorvem CO2 para espalhe-os em terra ou no mar…
Para a ONG CIEL, algumas destas técnicas (DACCS, geoengenharia e BECCS) implicam “imensos riscos para os ecossistemas e as comunidades”. Os autores do relatório não negam estes pontos e destacam os riscos dos cenários que dependem destas novas tecnologias, “algumas das quais acarretam riscos para o ambiente enquanto outras também apresentam benefícios colaterais” além da eliminação do CO².
As técnicas mais tradicionais também podem, quando mal executadas, ser prejudiciais à “biodiversidade e à segurança alimentar”, acrescentam. Por isso, apelam a um desenvolvimento “rápido”, mas “sustentável” e enquadrado da eliminação de CO², sem desviar a atenção dos esforços para reduzir as emissões.